Aeroportos brasileiros enfrentam desafios para implementar agenda ESG, aponta estudo da Roland Berger
O investimento em sustentabilidade tem se tornado um diferencial competitivo em diversos setores da economia, com empresas adotando critérios ambientais, sociais e de governança (ESG) cada vez mais rigorosos para se destacar no mercado e lidar com os desafios climáticos. Atividades como aeroportos são essenciais para conectar pessoas e mercadorias globalmente, porém também geram impactos negativos ambientais, que vão desde a qualidade do ar e da água até a emissão de ruídos e resíduos.
De acordo com o relatório “Implementação da agenda de sustentabilidade nos aeroportos brasileiros”, da consultoria global Roland Berger, a redução desse impacto deve ser uma das principais prioridades dos aeroportos brasileiros. Nos próximos anos, eles precisarão se adaptar para cumprir com os novos regulamentos e normas das agências reguladoras globais e autoridades da aviação.
Entre os principais impactos gerados, as emissões de gases de efeito estufa (GEE) chamam a atenção. A considerável pegada de carbono originada pelas operações das aeronaves e pelo congestionamento de veículos nas áreas próximas aos aeroportos contribui para que esses locais representem cerca de 15% das emissões de GEE do setor de aviação.
Além das emissões de dióxido de carbono (CO2), os aviões e as atividades realizadas dentro do perímetro aeroportuário liberam óxidos de nitrogênio, comprometendo a qualidade do ar e afetando as comunidades vizinhas. Segundo a Agência Europeia para a Segurança da Aviação (AESA), os poluentes da aviação podem impactar áreas situadas a até 12 quilômetros de distância dos aeroportos.
Outros impactos incluem resíduos, com uma estimativa de que os terminais aeroportuários em todo o mundo gerem aproximadamente seis bilhões de toneladas anualmente; contaminação, onde pelo menos 52 poços de água próximos a aeroportos estão poluídos com produtos químicos associados a uma espuma de combate a incêndios utilizada em treinamentos aeroportuários; e ruído, com 3,2 milhões de pessoas expostas a níveis de ruído acima do considerado aceitável na União Europeia em 2019, em 98 grandes aeroportos europeus.
O estudo indica que uma parcela considerável das emissões provém do escopo 3, que abrange a cadeia de valor. O impacto gerado por fornecedores, transporte de passageiros e funcionários, construção civil e infraestrutura, manejo de equipamentos de solo e os movimentos das aeronaves (decolagem, aterrissagem, estacionamento e taxiamento) é responsável por aproximadamente 90% da pegada de carbono dos aeroportos.
Os dados mostram que muitos aeroportos brasileiros estão nos estágios iniciais de descarbonização. Aeroportos como Santos Dumont, Galeão e os geridos pela Infraero estão no nível 1, que envolve mapeamento do inventário de carbono. Outros, como Vitória, Macaé, Brasília e Florianópolis, atingiram o nível 2, focando na redução de emissões. O Aeroporto de Salvador está no nível 3 (otimização), enquanto o Aeroporto de BH se destaca no nível 4, alcançando a neutralidade de carbono.
A questão do Combustível Sustentável de Aviação (SAF) é apontada como uma solução promissora para reduzir as emissões. No entanto, a produção atual é insuficiente para atender às demandas futuras. O relatório estima que serão necessários 636 bilhões de litros de SAF até 2045, enquanto a produção atual é de apenas 0,15 bilhão de litros.
“Quando comparamos com outros países, o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer para desenvolver e envolver os stakeholders na busca pela neutralidade nas emissões. No entanto, já identificamos aeroportos que estão mais adiantados nesse processo, como o BH Confins”, comenta Guilherme Issa, gerente e consultor de ESG da Roland Berger no Brasil.
A pesquisa também destaca exemplos internacionais de aeroportos que avançaram significativamente em suas práticas sustentáveis, como o Aeroporto John F. Kennedy nos EUA, Schiphol na Holanda e Genebra na Suíça, que podem servir de referência para os aeroportos brasileiros. Outro exemplo é o aeroporto de Munique, na Alemanha, que opera com um modelo de incentivo em que o armazenamento e a taxa de transferência de SAF não são cobrados.
“Os incentivos adequados são indispensáveis para acelerar essa transformação, seja por meio de bônus ou multa. O Brasil deve mirar estes exemplos para promover a integração da sustentabilidade na operação diária dos seus aeroportos”, completa o consultor da Roland Berger.
Fonte: Roland Berger
Foto: Ivan Shimko/Unsplash
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