Entrevista

Foco na história e liderança do mercado: Entrevistamos Bruna Diretora Superintendente e Membro do Conselho de Administração da Líder Aviação

Com mais de 60 anos de história e uma trajetória marcada pela pioneirismo e inovação, a Líder Aviação se consolidou como a maior empresa de aviação executiva da América Latina. Em entrevista exclusiva à Revista Piloto Ribeirão, a Diretora Superintendente e Membro do Conselho de Administração da Líder e há 14 anos na empresa, Bruna Assumpção Strambi, nos revela os desafios e as perspectivas da empresa para os próximos anos. Descubra como a Líder está se adaptando às novas tecnologias, quais são as principais tendências do mercado de aviação executiva e os detalhes sobre o aguardado HondaJet Echelon.

1.      Quais são os principais desafios que a Líder Aviação enfrenta atualmente no mercado de aviação executiva?

A crise da cadeia de suprimentos ainda é um grande desafio para todo o setor de aviação (e outros), porque impacta nos prazos de entregas de aeronaves e peças. Mas, de um ano para cá, vem melhorando e já temos um cenário mais próximo de uma normalização.

Outro ponto de atenção para todo o mercado é a falta de mão de obra especializada na aviação, que vai de pilotos até mecânicos. A quantidade de profissionais é menor do que a demanda. Neste sentido, a Líder sempre teve a preocupação em investir em uma série de iniciativas de capacitação, como o nosso Programa de Formação Técnica para a área de manutenção, além do Programa Trainee realizado anualmente.

2.      Como a Líder Aviação se diferencia de outras empresas de aviação executiva no Brasil?

O primeiro ponto é que, com 65 anos e uma das pioneiras da aviação executiva, somos a empresa de aviação mais longeva do Brasil. Com isso, nos tornamos referência no nosso segmento​. Hoje, considerando todas as áreas de atuação, podemos afirmar que a Líder é a maior empresa de aviação executiva da América Latina, o que é confirmado pelos seus números de mais de 1,3 mil colaboradores, frota total de 58 aeronaves, mais de 1 milhão de horas voadas, 21 bases operacionais distribuídas em aeroportos nas 5 regiões do Brasil e mais de 1,5 mil aeronaves novas e seminovas já vendidas.

Com conceito one stop shop, atuamos em todas as frentes da aviação executiva, como vendas e aquisições de aeronaves, fretamento e gerenciamento, transporte aeromédico, manutenção e modernização, serviços aeroportuários, operação de helicópteros para a indústria de óleo e gás, treinamento em simuladores de voo, seguros aeronáuticos, entre outros.

Outro ponto é a nossa cultura de inovação e tecnologia, com histórico no incremento de soluções e uma área de TI própria que desenvolve sistemas voltados para atender as necessidades específicas das nossas operações, o que aumenta a nossa eficiência e segurança.

E vale reforçar ainda que a busca incessante por segurança é o fio condutor que orienta todos estes fatores. A Líder começou quando o Comandante José Afonso Assumpção, após ter um problema em voo com uma aeronave da empresa que trabalhava, resolveu fundar sua própria companhia de táxi-aéreo, pautada nos mais atuais e rígidos procedimentos de segurança à época. Na dúvida entre comprar uma casa ou um avião, escolheu a segunda opção e deu início às operações. Em 1969, a pedido do próprio mercado, homologou sua oficina de manutenção – que até o momento só realizava as manutenções nas aeronaves próprias – para prestar serviços de manutenção a aeronaves de terceiros. Hoje, a área é certificada pela ANAC do Brasil, FAA, EASA e ANAC da Argentina.

3.      Quais são os planos de expansão da Líder Aviação para os próximos cinco anos?

Estamos sempre em busca de novidades e estudando todas as tendências do mercado. O que posso comentar é que temos boas perspectivas nas operações para a indústria de óleo e gás e que o crescimento do segmento de aviação executiva dos últimos três anos vai gerar demanda recorrente para os serviços de manutenção e modernização de aeronaves, gerenciamento, atendimento aeroportuário e consultoria para venda e aquisição de aeronaves seminovas. Além disso, a performance do HondaJet Echelon, cujo interesse de possíveis compradores vem superando nossas expectativas mais otimistas, deve impactar nossa operação de venda de aeronaves novas.

4.      Quais são as principais tendências que você vê no mercado de aviação executiva nos próximos anos?

Primeiro, é a modernização da frota atual no país. A demanda por aeronaves de aviação executiva segue crescendo e, mesmo em um cenário de normalização da cadeia de suprimentos, reformar uma aeronave ou adquirir uma seminova, já modernizada ou com possibilidade de passar por um retrofit, pode ser mais rápido do que a entrega de uma nova. Por exemplo, recentemente fechamos um contrato para instalar o sistema Garmin G5000 em um Hawker 400A que vai ampliar consideravelmente a vida útil da aeronave, além de aumentar a segurança e o conforto, diminuir o peso e, consequentemente, economizar combustível. Será a primeira vez que este sistema da Garmin será instalado por um centro de serviço no Brasil e por uma equipe brasileira.

Também vejo como tendência a busca por aeronaves com autonomia para cobertura nacional. Nosso país é de dimensão continental e as fronteiras comerciais e financeiras estão cada vez mais espalhadas, puxadas pelo agro, varejo, mineração, segmento imobiliário, setor de entretenimento, entre outros. E a aviação comercial não possui o mesmo alcance da aviação executiva, pois conecta menos de 200 aeródromos enquanto a executiva alcança quase 3 mil aeródromos no país. Sentimos nos clientes, tanto de fretamento quanto de vendas, a procura por aviões que façam o maior trajeto possível, da forma mais rápida e com maior capacidade de passageiros.

E há também a preocupação com a segurança. Com o aumento da frota de aviação executiva no país, é imprescindível que todos os players que fazem parte do segmento estejam atentos e cada vez mais rígidos com relação aos procedimentos, certificações e homologações. Já sentimos que os clientes nos procuram com estas questões, o que é muito positivo e dificulta a operação de serviços não regulamentados como o “táxi-aéreo clandestino”. As novas tecnologias, como a inteligência artificial, também vão contribuir neste sentido.

5.      Como a empresa está se adaptando às novas tecnologias e inovações no setor de aviação?

Temos um setor de TI próprio e robusto, que é responsável por desenvolver os sistemas da Líder de forma customizada e aderentes à realidade das nossas operações, o que contribui significantemente para a segurança e eficiência dos nossos serviços. Estamos sempre atentos às tendências e novidades e fomos pioneiros na implementação de diversas soluções como a Ordem de Serviço Digital e o Diário de Bordo Digital no Brasil. E nos últimos anos, implementamos soluções avançadas de Business Intelligence e Big Data, desenvolvendo centenas de indicadores para apoiar decisões operacionais, táticas e estratégicas.

Mais recentemente, nosso time de tecnologia desenvolveu, através de machine learning, uma sistemática para ajudar a detectar, antes mesmo de surgirem, falhas latentes e evitar paradas não programadas de helicópteros, tornando a manutenção de helicópteros mais assertiva e impulsionando a eficiência operacional. Utilizando o sistema HUMS (Health Usage Monitoring System), monitoramos automaticamente centenas de sinais dos helicópteros, como vibração, temperatura, pressão, etc, e esses dados são analisados e armazenados, criando um ambiente de Self Service Analytics que permite a identificação de padrões e tendências, através de avaliações periódicas. A tecnologia reduz o tempo de análise de dados das aeronaves monitoradas e nos apoia na tomada de decisão para troubleshooting de falhas.

6.      Os E-vtols podem ser considerados uma ameaça à aviação de asas rotativas em voos dentro da mesma cidade?

O Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer quando se trata de e-vtols. Por se tratar de uma área nova na aviação, é necessária a análise e definição de parâmetros e regulamentos bastante adequados, claros e rigorosos para garantir a segurança de todas as operações. A Líder está atenta a todas tendências e possibilidades.

7.      Em relação a Labace de 2023 para a deste ano podemos constatar aumento na procura de aeronaves executivas, se sim este aumento esteve voltado para o mercado de asa fixa ou rotativa?

Sim, a Labace foi mais um indicador de que a procura por aeronaves no Brasil vem crescendo se comparado ao mesmo período de 2023. O crescimento desse mercado não envolve apenas aviões e helicópteros, mas também os serviços de suporte às aeronaves como manutenção, grandes modificações, gerenciamento, atendimento aeroportuário, etc.

8.      Sabemos que este é o último ano da Labace no Aeroporto de Congonhas, mas que a partir do ano que vem (2025) a feira será realizada no Aeroporto Campo de Marte, com isso existe a possibilidade de visitantes interessados em aquisição e venda de aeronaves chegarem via Fly-IN, algo que Congonhas não possibilita, tendo essa possibilidade de inovação da feira a Líder pretende levar aeronaves para voos de demonstração além de exposição estática?

A  Líder, como uma das incentivadoras da criação do evento e expositora em todas as edições até hoje, pretende sim participar da Labace em 2025. E, no momento oportuno, definiremos nosso modelo de participação, inclusive em termos de possibilidades de voos de demonstração.

9.      O que torna o HondaJet Echelon uma escolha ideal para o mercado brasileiro?

Com certeza o fato de ser um jato leve capaz de voar longas distâncias, com sua capacidade máxima de 11 pessoas. O Echelon será capaz de voar sem escalas por 4.862 km, ou seja, de um ponto a outro do Brasil. Por exemplo, voar de Porto Alegre até Manaus sem parar para abastecer.

10.  Quais são as principais características e inovações do HondaJet Echelon em comparação com outros jatos leves?

Além da autonomia única na categoria de jatos leves (em torno de 600 milhas a mais), capaz de voar sem escala de costa a costa dos EUA e entre quaisquer pontos do território brasileiro, o Echelon já carrega a credibilidade da Honda Aircraft, conquistada com o HondaJet, que já teve mais de 270 aeronaves entregues globalmente e que está na versão Elite II, que se destaca pelo design, tecnologia embarcada e conforto em voo. Destaco também que o Echelon, assim como os demais modelos do HondaJet na categoria VLJ, tem um desenho inovador que coloca os motores em posição acima das asas, o Over-The-Wing Engine Mount/OTWEM, que amplia o espaço interno da cabine e dissipa as vibrações comuns aos motores à jato antes de atingirem a fuselagem, trazendo maior conforto físico e sonoro aos passageiros.

11.  Como tem sido a recepção do mercado brasileiro ao HondaJet Echelon até agora?

A melhor possível e acima das nossas expectativas. O HondaJet Echelon ainda está em fase final de desenvolvimento e já temos, só no Brasil, cerca de 30 cartas de intenção assinadas por clientes para a aquisição do jato. O que temos reparado é que, pela característica de grande dimensão territorial do nosso país, existe uma grande demanda por aeronaves que ofereçam a tecnologia e a agilidade de um jato leve de última geração, com a autonomia de voo semelhante ao de aviões maiores.

12.  Qual tempo de entrega do HondaJet Echelon aos compradores do Brasil?

O HondaJet Echelon está em fase final de desenvolvimento e a sua previsão de comercialização é para 2028. Se considerarmos os prazos de entrega praticados hoje para aeronaves semelhantes, que é de 2 a 3 anos, as primeiras unidades do Echelon deverão ser entregues entre 2030 e 2031. Mas isso é apenas uma estimativa dada a nossa realidade atual.

Foto: Líder Aviação

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