Possível fusão entre Azul e Gol pode afetar preços de passagens aéreas diz Vitor Vianna, turismólogo
Com a recente proposta de fusão entre duas gigantes da aviação brasileira, Azul e Gol, o mercado e os consumidores se deparam com um cenário de incertezas e possíveis impactos significativos. A concentração do setor aéreo, a concorrência, os preços das passagens, a qualidade dos serviços e os programas de fidelidade são apenas alguns dos aspectos que podem ser afetados por essa união.
Nesta entrevista com o turismólogo Vitor Vianna, buscamos explorar as diversas perspectivas sobre a fusão, abordando as preocupações dos consumidores em relação aos preços e à qualidade dos serviços, as possíveis mudanças nos programas de fidelidade, o impacto nos funcionários das empresas, o papel das agências reguladoras e as lições que podemos tirar de outras fusões no setor.
Além disso, discutimos o futuro do setor de aviação no Brasil, os desafios e oportunidades para empresas e consumidores, e as recomendações para os passageiros em relação à possível fusão.
Com a palavra, nossos entrevistados, que nos ajudarão a entender melhor esse cenário e a projetar o futuro da aviação no Brasil.
• Diante da possível fusão entre a Azul e a Gol, como você avalia o impacto dessa união no mercado de aviação brasileiro, especialmente em relação à concentração de mercado e à concorrência?
Avalio como péssimo! Pois agora, na prática, só teremos 2 cias empresas aéreas concorrentes (latam e azul+gol). A velha lei da oferta é demanda… A aviação no Brasil está de mal a pior, e quem sofre é só nós, consumidores/viajantes!
• Considerando que a fusão pode resultar em uma empresa com grande fatia do mercado, quais medidas você considera que devem ser tomadas para garantir que os preços das passagens aéreas não sejam afetados negativamente?
Levando em consideração que as duas cias aéreas em questão somam dívidas de cerca de R$ 5,8 bilhões no total, me vejo, neste momento bem pessimista. Pois não vejo um cenário e tampouco motivo favorável que as façam diminuir os preços de suas passagens. Muito pelo contrário, o que estamos vendo atualmente são serviços básicos como “lanche a bordo”, mala de mão, serem cortados com a desculpa de baratear as passagens, mas os preços permanecem altos!
• Além da questão dos preços, quais outros aspectos você considera que podem ser impactados pela fusão, como a qualidade dos serviços, a oferta de voos e a experiência dos passageiros?
Com certeza a experiência de voar. Levando em consideração que a azul tem um dos melhores serviços (a nível de experiência), e a gol, o pior, meu receio é que a azul se contamine pela má qualidade da Gol, e as duas passem a oferecer péssimos serviços! (Vide que a gol já anunciou o corte de serviço de bordo em voos curtos dentro do Brasil, a partir de janeiro de 2025).
• Em relação aos programas de fidelidade das duas companhias, como você acha que eles serão afetados pela fusão? Os clientes podem esperar mudanças nas regras, nos benefícios ou na forma de acumular e usar os pontos?
Segundo eles, ao comprar uma passagem da azul, por exemplo, você poderá escolher em qual programa de fidelidade você desejará acumular milhas (tudoazul ou smiles). Isso já estava acontecendo há um tempo, desde que as duas anunciaram uma parceria, o que no turismo chamando de “code share”, quando uma cia vende o voo da outra empresa em trechos que ela não opera voos.
• Do ponto de vista dos funcionários das duas empresas, como você avalia o impacto da fusão? Há preocupações em relação a possíveis demissões, mudanças nas condições de trabalho ou unificação de equipes?
Creio que num primeiro momento, na prática e internamente para os funcionários, nada mudará! Afinal, as duas cias aéreas permanecerão intituladas como “Gol” e “Azul”.
• Como você enxerga o papel das agências reguladoras nesse processo de fusão? Quais são os principais pontos que elas devem analisar e quais medidas podem tomar para proteger os direitos dos consumidores?
Precisa haver uma fiscalização maior por parte da ANAC, pois percebo que aqui no Brasil cada vez mais as cias aéreas, com a desculpa de reduzir custos e se parearem com a concorrência e modelo de trabalho das empresas “low costs” (de baixo custo, mas sem nenhum serviço incluído), estão cada vez mais cortando serviços essenciais, porém sem diminuírem seus valores. Se continuarmos assim, 2025 será um ano terrível pra nós, consumidores, no Brasil!
• Considerando o histórico de outras fusões no setor aéreo, tanto no Brasil quanto em outros países, quais lições podemos tirar e quais erros devem ser evitados nessa possível união entre Azul e Gol?
Uma fusão nunca é apenas uma fusão, e sim, uma forma de engolir a concorrência. Nesse caso em específico, da azul e Gol, eu vejo como uma forma de reduzir custos de uma dívida, que como falei anteriormente, está altíssima! Me parece muito mais uma forma de sobrevida das empresas, do que qualquer outra coisa! Agora, resta saber, se para nós, consumidores, isso será ruim ou péssimo!
• Em um cenário de fusão, como você avalia a importância de se manter a diversidade de empresas no mercado? Quais os riscos de um mercado concentrado e quais os benefícios de um ambiente mais competitivo?
Precisamos urgentemente de uma outra empresa aérea operando no Brasil! Não podemos ficar apenas com 2 empresas! Quanto mais concorrência, melhor é para o consumidor!
• Além da fusão entre Azul e Gol, como você enxerga o futuro do setor de aviação no Brasil? Quais são os principais desafios e oportunidades para as empresas e para os consumidores nos próximos anos?
Sendo bem sincero, terrível! Afinal de contas todos os custos das empresas aéreas são cotizados em dólares (inclusive combustível), e a medida que o dólar dispara, fica cada vez pior para as empresas, o que faz com que o preço das passagens dispare, ou seja, apenas o consumidor final que paga esse preço!
• Para finalizar, qual a sua recomendação para os passageiros em relação à possível fusão? É hora de se preocupar com os preços das passagens? Há algo que eles possam fazer para se proteger de possíveis aumentos?
Infelizmente não há o que fazer. Recomendo sempre comprar passagens com mais antecedência possível (a partir de 10 meses), para evitar preços mais altos do que o que estamos pagando! Por ora, nos resta apenas aguardar cenas dos próximos capítulos e torcer para que uma (ou mais de uma) empresa entre no mercado Brasileiro para aumentar a concorrência.
Fonte: Vitor Viana
Foto: Adriano Moura Buzeli – Revista Piloto Ribeirão
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